31/05/2012
– G1 Ciência e Saúde
Tratamento contra Aids na
África do Sul reduz transmissão em bebês
Com apenas um
ano de idade, Katakane ri e brinca nos braços da mãe soropositiva, enquanto um
médico tenta examinar a menina no maior hospital público da África do Sul, em
Soweto.Frágeis economias sofrem impacto da epidemia - O HIV se alastra livre e solto pelo continente, sem que os governos tomem medidas preventivas eficazes. Com exceção de Uganda, praticamente não há campanhas de prevenção, faltam testes de HIV e não há medicamentos para tratar os doentes. A razão, segundo especialistas, é a falta de vontade política dos governos de lidar com a doença e de tocar em assuntos tabus para a maioria das culturas africanas, como sexo, homossexualismo e "camisinha".
Muitos africanos ignoram o que seja AIDS. Eles acham que a doença é causada apenas pela pobreza, por bruxaria, inveja ou por maldição de espíritos antepassados. Esses mitos aumentam o estigma em torno da AIDS, mantida em segredo por doentes e familiares devido ao preconceito e ao isolamento a que são submetidos na comunidade.
O seminarista togolês Pierre Avonyo, que trabalhou com soropositivos em seu país de origem, afirma que a violência sexual contra as mulheres produzida por guerrilheiros e pelos próprios exércitos é a principal causa do aumento da incidência da AIDS. A doença também ameaça correr as frágeis economias dos países. O Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul, por exemplo, será 17% menor em 10 anos por causa de AIDS. Empresas de vários países calculam perder entre 6% e 8% dos lucros em gastos com funcionários contaminados, incluindo o pagamento de funerais e medicamentos básicos.
O engenheiro belga Dirk Bogaert, que prestou assistência a doentes pela organização Médicos Sem Fronteiras em vários países da África, dá um exemplo de como a AIDS faz parte do cotidiano das empresas: ao contratar cinco motoristas para transportar remédios para regiões infectadas, ele afirma que um empregador precisa prever que, em dois anos, pelo menos um funcionário vai apresentar sintomas da doença. "A AIDS deixa de ser uma doença que a gente lê nos jornais, e passa a ser uma vivência de todo o dia" - afirma.
Governo brasileiro assinou convênios de cooperação com países africanos - Para desespero das grandes multinacionais farmacêuticas, o governo brasileiro assinou convênios de cooperação com Angola, Maçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. A ajuda inclui transferência de tecnologia para a fabricação de medicamentos, treinamento no controle de qualidade das matérias-primas e orientação para a administração correta do tratamento. A guerra de patentes está em vigor na África do Sul. Os grandes laboratórios estão processando o governo, em uma tentativa de impedir a compra de medicamentos genéricos de outros países, como o Brasil e a Índia. As indústrias queixam-se de que o desrespeito às patentes causa prejuízos anuais de milhões de dólares. O país conquistou uma vitória na semana passada, quando a Merck anunciou a redução de preço dos seus medicamentos.
Patente - É uma espécie de registro de propriedade industrial ou intelectual de um determinado invento, que garante a seu criador a exclusividade na fabricação do produto e o retorno do investimento feito para desenvolver o projeto.
A quebra de patente - Também chamada de licença compulsória, significa que o governo de um país pode anular a exclusividade do fabricante sobre seu produto e permitir que outras fábricas copiem a invenção. São apenas exames de rotina. A menininha é saudável, graças a um tratamento que salvou milhares de bebês nascidos de mães portadoras do vírus causador da Aids.
"Minha bebê está ótima! Ela brinca, diz
'papai, mamãe'. Sim, ela está bem, está ótima", contou, radiante, Nandi
(nome fictício), de 32 anos, comentando o alívio que sentiu quando soube que a
filha não tinha sido infectada com o HIV. Dois anos atrás, enquanto estava grávida, Nandi
ingressou em um programa de saúde pública concebido para evitar que mães
soropositivas infectassem seus bebês com o vírus. O tratamento salvou até 70 mil crianças ao ano,
segundo autoridades, uma grande história de sucesso diante das quase seis
milhões de pessoas que vivem com HIV e Aids no país. Grávidas fazem o teste em
clínicas de pré-natal, relatou a pediatra Avi Violari, no hospital Chris Hani
Baragwanath, de Soweto."Se ela está contaminada com HIV, então
oferecemos aconselhamento intensivo. E oferecemos tratamento durante a
gravidez", explicou, enquanto crianças se penduram nas cadeiras azuis da
unidade de pesquisa, aguardando os pais que fazem testes ou tratamento. As mães soropositivas recebem medicamentos
antirretrovirais (ARV) durante a gravidez e após o nascimento, e possivelmente
uma dose extra durante o trabalho de parto, dependendo a evolução o vírus. Tudo
de graça. 'É inacreditável', diz.
Os remédios reduzem a carga viral no corpo da mãe, que por sua vez diminui o risco de a criança contrair HIV através do cordão umbilical ou por exposição aos fluidos corpóreos da mãe durante o parto ou a amamentação. O recém-nascido também recebe algumas gotas de ARV em xarope, como um reforço para combater a infecção.
O êxito do tratamento tem sido uma bênção em um país onde metade dos 50 milhões de habitantes vive com menos de US$2 (R$ 4) por dia. Embora os antirretrovirais tenham reduzido o perfil da Aids de doença mortal a crônica nos países mais ricos, permitindo aos infectados manter um estilo de vida normal, o mesmo não ocorre nos países mais pobres, onde a sobrevivência pode ser uma luta cruel e diária em busca de alimentação e medicamentos adequados. Até uma década atrás, a África do Sul também era notoriamente resistente a fornecer medicamentos anti-Aids para as grávidas.
O ex-presidente Thabo Mbeki, no poder na época, despertou críticas em todo o mundo por questionar se o HIV causava a Aids, bem como os diagnósticos e remédios ocidentais no combate ao vírus. Em 2002, no entanto, a Corte Constitucional determinou que os antirretrovirais fossem disponibilizados de graça para futuras mães com HIV. Atualmente, o programa sul-africano de ARV foi além das grávidas e agora é oferecido a 1,3 milhão de pessoas, constituindo-se o maior programa do tipo no mundo.
Antes do lançamento do programa "Prevenção da Transmissão de Mãe para Filho (PMTCT, em inglês)", quase um terço dos bebês do país nascia com HIV, contraído de suas mães. As taxas de infecção agora caíram para menos de 4%, segundo números oficiais divulgados no ano passado.
"É inacreditável como as taxas de transmissão caíram. É realmente dramático", disse na capital, Pretória, Theresa Rossouw, doutora chefe em HIV do país. Autoridades de saúde internacionais comemoram o sucesso do programa.
"O programa PMTCT é o carro-chefe do governo sul-africano. É algo sobre o que eles podem dizer, 'Nós lideramos este programa'", disse Thapelo Maotoe, médica na agência de ajuda americana USAID, que financiou com mais de US$3,3 bilhões o tratamento contra HIV/Aids na África do Sul desde 2004.
Os resultados representam uma boa notícia em um país onde a metade dos bebês soropositivos não consegue chegar aos cinco anos de idade, por causa da pobreza generalizada.
Os remédios reduzem a carga viral no corpo da mãe, que por sua vez diminui o risco de a criança contrair HIV através do cordão umbilical ou por exposição aos fluidos corpóreos da mãe durante o parto ou a amamentação. O recém-nascido também recebe algumas gotas de ARV em xarope, como um reforço para combater a infecção.
O êxito do tratamento tem sido uma bênção em um país onde metade dos 50 milhões de habitantes vive com menos de US$2 (R$ 4) por dia. Embora os antirretrovirais tenham reduzido o perfil da Aids de doença mortal a crônica nos países mais ricos, permitindo aos infectados manter um estilo de vida normal, o mesmo não ocorre nos países mais pobres, onde a sobrevivência pode ser uma luta cruel e diária em busca de alimentação e medicamentos adequados. Até uma década atrás, a África do Sul também era notoriamente resistente a fornecer medicamentos anti-Aids para as grávidas.
O ex-presidente Thabo Mbeki, no poder na época, despertou críticas em todo o mundo por questionar se o HIV causava a Aids, bem como os diagnósticos e remédios ocidentais no combate ao vírus. Em 2002, no entanto, a Corte Constitucional determinou que os antirretrovirais fossem disponibilizados de graça para futuras mães com HIV. Atualmente, o programa sul-africano de ARV foi além das grávidas e agora é oferecido a 1,3 milhão de pessoas, constituindo-se o maior programa do tipo no mundo.
Antes do lançamento do programa "Prevenção da Transmissão de Mãe para Filho (PMTCT, em inglês)", quase um terço dos bebês do país nascia com HIV, contraído de suas mães. As taxas de infecção agora caíram para menos de 4%, segundo números oficiais divulgados no ano passado.
"É inacreditável como as taxas de transmissão caíram. É realmente dramático", disse na capital, Pretória, Theresa Rossouw, doutora chefe em HIV do país. Autoridades de saúde internacionais comemoram o sucesso do programa.
"O programa PMTCT é o carro-chefe do governo sul-africano. É algo sobre o que eles podem dizer, 'Nós lideramos este programa'", disse Thapelo Maotoe, médica na agência de ajuda americana USAID, que financiou com mais de US$3,3 bilhões o tratamento contra HIV/Aids na África do Sul desde 2004.
Os resultados representam uma boa notícia em um país onde a metade dos bebês soropositivos não consegue chegar aos cinco anos de idade, por causa da pobreza generalizada.
Por:Abrahão Antonio Figueredo
Fonte consultada:
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/05/tratamento-contra-aids-na-africa-do-sul-reduz-transmissao-em-bebes.html
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/05/tratamento-contra-aids-na-africa-do-sul-reduz-transmissao-em-bebes.html
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